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23º Congresso Medicina Geral Familiar

Pedro Figueiredo mostra que MF podem liderar a «sinfonia» do SNS

Na conferência de encerramento do 23º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar (MGF) e 18º Encontro Nacional de Internos e Jovens Médicos de Família (uma comunicação inicialmente prevista para o 36º Encontro Nacional de MGF), Pedro Figueiredo, jovem médico de família, irá dirigir a «Sinfonia da Liderança - Arranjo para Médico de Família». Na curta entrevista que se segue, o autor – que é igualmente músico e membro do já aclamado agrupamento Quatro e Meia –  explica-nos que existem muitas similitudes entre a música e a medicina, em particular o sucesso que pode advir de um trabalho de conjunto bem oleado e ensaiado.

A sua comunicação incidirá sobre as mesmas temáticas que desejava ter partilhado com os seus colegas em Braga?

Pedro Figueiredo - Decidi manter as temáticas, dado que o «concerto» agendado para Braga, infelizmente, por condições muito adversas, não pôde realizar-se na data prevista. A «orquestra» manteve-se disponível e todos os naipes fizeram questão de estar solidários com o maestro para que, desta vez, a “Sinfonia da Liderança” se entoe em Évora. Algo que me deixou sensibilizado e que pretendo retribuir da melhor forma.

Os desafios que está a enfrentar, neste momento, enquanto jovem especialista que procura enraizar-se no SNS, vão transparecer nas mensagens que irá transmitir à audiência (que será tudo o indica bastante jovem também)?

Sem dúvida. A minha intenção nesta conferência passará por mostrar, recorrendo à analogia com o mundo da música, que existem desafios na nossa prática diária como médicos de família, aos quais teremos de dar uma resposta cada vez mais «afinada». A falta de recursos materiais e humanos, a sombra da desmotivação e da acomodação aos «arranjos do costume», até à utilização de «modernos instrumentos digitais», que nem sempre afinam com a melodia já existente, são realidades com que nos defrontamos diariamente e para as quais é mandatório mudar o «tom».

A reforma dos CSP em Portugal trouxe uma nova filosofia de cuidados e uma nova linguagem aos centros de saúde, suportadas na multidisciplinaridade e na interligação entre membros de uma equipa de trabalho. Estavam (e estão) os médicos de família preparados para esta realidade de harmonização de conhecimentos e competências?

Esse será, precisamente, um dos focos desta sessão de encerramento. Acredito que o trabalho em equipa e o conhecimento que cada um deve ter, não só do seu papel, como também dos restantes «colegas de naipe», serão fatores preponderantes para o sucesso de uma unidade de saúde que assegura cuidados de excelência aos seus utentes. Da mesma forma que uma orquestra bem oleada e ensaiada, certamente, arrancará aplausos genuínos do seu público. Acredito, também, que a «fusão de estilos» entre os elementos mais experientes da equipa (ou «orquestra») e os mais novos (com «técnicas criativas» e o irreverente sangue na guelra de quem aprendeu a dominar um novo instrumento), poderá ser a fórmula de sucesso para a sua longevidade e produtividade.

Em muitos locais do nosso país, face à escassez de recursos de apoio (psicólogos, nutricionistas, terapeutas, etc.) e de acesso a serviços diferenciados de segunda linha (hospitalar), os médicos de família são ainda clínicos de «sete instrumentos»? Acredita que tal panorama pode ser revertido, durante a sua carreira? 

Acredito, fundamentalmente, na capacidade que os médicos de família sempre tiveram de serem verdadeiros «MacGyvers» na Saúde. Desde sempre, com pouquíssimos recursos, a trabalhar muitas vezes «à periferia», foram capazes de humanizar os cuidados e transformar o impossível em «mais uma missão cumprida». Isso dotou os médicos de família dessa faceta multi-instrumentista e versátil de quem conhece a realidade terrena, palpável, do dia-a-dia com os doentes e suas famílias.

Este legado que carregamos pelos nossos tutores, aliado à força motriz de uma nova geração, faz com que tenhamos capacidades únicas ao ler a partitura do SNS por duas vertentes: como exímios intérpretes mas, cada vez mais, como grandes maestros. 

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