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23º Congresso Medicina Geral Familiar

Humanismo é faceta inseparável da MGF

Em Évora poderá participar numa sessão do 18º Encontro de Internos e Jovens Médicos de Família concentrada em algumas das atividades mais nobres que um médico de família pode desenvolver, em favor de comunidades (longínquas ou não) carecidas de especial atenção.

A mesa «MGF Humanitária» partirá do relato das experiências pessoais dos médicos Martino Gliozzi (coordenador da Unidade de Saúde Familiar da Baixa), Ana Paula Cruz (médica interna de Medicina Geral e Familiar com formação em ação humanitária) e Sara Rigon, para debater a diferença positiva que a MGF consegue fazer no mundo, quando os médicos de família se envolvem de corpo e alma em iniciativas, campanhas e ideias concebidas com um espírito humanitário, quer estas se concretizem no nosso país e na nossa comunidade, quer no estrangeiro e vocacionadas para populações sobre as quais pouco conhecemos à partida.

Neste âmbito, o médico de origem italiana Martino Gliozzi não deixará de sinalizar as conquistas, mas também os obstáculos e as dúvidas que têm marcado a atuação da USF da Baixa (Lisboa) e dos seus profissionais, divididos por múltiplos projetos que procuram melhorar a qualidade de vida e a integração de uma população extremamente diversa, do ponto de vista social, cultural e étnico. Mas Martino falará também, certamente, da sua passagem em trabalho por países como o Brasil, a Tanzânia, ou Moçambique.

Mas se há quem dê azo ao seu humanismo médico dentro de portas, também se encontram bons exemplos de tal conduta fora de Portugal. Ana Paula Cruz, apesar de ser ainda uma jovem, acumula já um conjunto impressionante de vivências além-fronteiras, em contexto de assistência humanitária, tendo passado por locais como Moçambique, Angola, Grécia ou Bangladesh. “Durante os últimos anos aprendi muito sobre o que é ser médica fora da tranquilidade e segurança dum consultório tal como o conhecemos. Entre os campos de refugiados em Lesbos, na fronteira com o Congo ou no Bangladesh e, mais recentemente, em Moçambique na resposta de emergência após o ciclone Idai ou no Mar Mediterrâneo em missão de resgate e salvamento, nunca me pareceu tão urgente sermos do mundo. E usarmos as nossas capacidades médicas e científicas que, privilegiadamente, nos permitem cuidar de todos como um todo, usando os nossos cuidados como fonte de dignidade e esperança, num mundo onde palavras como estas escasseiam”, explica Ana Paula Cruz.

A médica italiana Sara Rigon é outro caso paradigmático de alguém que preferiu não ficar de braços cruzados perante as iniquidades que nos assaltam diariamente. Colaboradora dos Médicos sem Fronteiras e uma cidadã do mundo (já exerceu em Itália e na Nova Zelândia e contribui, de modo regular, para projetos sanitários e de apoio humanitário em todo o globo), Sara Rigon é presença habitual em territórios delicados: “tenho trabalhado no contexto humanitário nos últimos três anos. Estive duas vezes no Haiti, no Iraque durante o conflito para libertar Mosul das garras do ISIS e no Bangladesh, com vista a ajudar a população Rohingya que escapava à morte e à retaliação no seu país natal, Myanmar. As pessoas costumam perguntar porque trabalho em locais tão remotos e perigosos, quando podia estar a praticar Medicina Familiar perto de família e amigos. Não é fácil de explicar, por isso regra geral peço emprestadas algumas palavras de James Baldwin, um dos meus autores favoritos e celebrado ativista americano: trabalhar como médico humanitário permitiu-me «descobrir que a linha separadora entre testemunha e ator é efetivamente muito ténue»”.

Para Sara Rigon, “trabalhar como médico humanitário pode ser muitas coisas em simultâneo: excitante, frustrante, cansativo, recompensador, desolador, perigoso e muito mais. Se tivesse de descrever a sensação com uma única palavra, essa palavra seria privilégio. Privilégio que surge associado a um elevado custo pessoal, mas também a uma grande recompensa, até porque nada que vale a pena fazer na vida é fácil”.

A médica italiana sublinha, ainda, que todos aqueles que estejam interessados em dar algo de si neste campo não necessitam de cruzar o planeta para o fazer: “a Medicina humanitária pode soar como algo entusiasmante e exótico, contudo não precisamos de viajar para o outro lado do mundo com vista a dar o nosso contributo, mostrar compaixão e retificar injustiças. Enquanto médicos de família, podemos praticar Medicina humanitária todos os dias, praticamente em qualquer local, inclusive na esquina da nossa rua ou, em muitos casos, no nosso próprio consultório”.

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